por Marcos Porto
Autotransformação é a característica central da vida em evolução. Poderá ser emocionante,
assustadora, desgastante, provocar alegria ou tristeza, resistência ou entrega. Impermanência é
sermos sábios na forma de como responder ao que vem e vai nesta dinâmica.
Vamos lá refletir sobre o tema?
Algumas tradições espirituais equiparam o mundo da impermanência com a dos infortúnios. Por
outro lado, há os que consideram a decepção diante das adversidades como não sendo inerente
ao mundo da impermanência. A decepção surge quando nos apegamos. Quando o apego
desaparece, a impermanência não dá origem ao desalento. A resposta então, é lidarmos com o
apego, não tentando escapar do mundo transitório.
É possível encontrarmos motivação na nossa autotransformação; é confiarmos na capacidade de
desapego da mente, e assim encontrarmos nossa libertação na experiência espiritual da
impermanência. A forma de controlarmos o apego é observarmos a natureza transitória sem nos
apegarmos. Essa percepção pode nos mostrar a futilidade em tentarmos encontrar felicidade
duradoura no que é impermanente, encorajando‐nos a examinarmos profundamente porque nos
apegamos. Faz sentido?
Impermanência pode ser compreendida de diferentes maneiras. Desde o entendimento comum
de impermanência, ou seja, o que não é permanente, sendo instável, e inconstante, nos dando
compreensão da nossa percepção, do nosso enxergar intuitivo, da natureza de nós mesmos e
assim a reflexão sobre impermanência nos levando à libertação.
O entendimento da impermanência é acessível a todos nós seres humanos espirituais criados na
Graça do Ser Maior Criador Deus; entretanto estamos culturalmente presos aos paradigmas da
velhice, doença e morte.
Os processos mudam, vivemos em um planeta caracterizado pela transformação; assim é com as
estações climáticas do ano, as mudanças político‐econômicas na sociedade, e até nossos
sentimentos mudam.
Às vezes, percebendo que uma experiência é impermanente, podemos relaxar com a forma como
ela é, incluindo o seu ir e vir. Outras vezes, percebendo que a mudança é inevitável nos ajuda a
deixarmos ir, ao invés de nos agarrar em como as coisas são ou resistindo às transformações. Ao
reconhecermos que somos todos iguais, estando sujeitos ao envelhecimento, doença e morte
formamos a base para a compaixão conosco. Correto?
Embora possamos entender intelectualmente o fato da impermanência, não podemos senti‐la
conosco como concreta. Resistimos emocionalmente à ideia. Nossa resistência à impermanência
é a razão básica do porque a vida é tão frustrante. Tendemos a esperar que as coisas
permaneçam como estão. Não gostamos que elas tenham um final, ou se transformem, mas isto
sempre acontece.
Quando nossas expectativas são ilusórias, a frustração é inevitável, e nas mudanças nos sentimos
inseguros e ressentidos. Essas emoções são dolorosas. Caso não houvesse impermanência, nada
poderia acontecer.
A sabedoria poderá advir com a idade, e não apenas a partir da experiência de vida, mas
também da consciência de que somos Alma e que a nossa vida no corpo físico é finita. Isso nos
encoraja a olharmos atentamente para nossos valores espirituais. Elevação para o nível mais
profundo de impermanência poderá nos revelar profunda sabedoria espiritual.
Mestre Jesus em sua Divina Sabedoria nos diz: “Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a
ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu onde
nem a traça nem a ferrugem consomem e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver vosso tesouro, aí também estará o vosso coração”. Mt 6: 19‐21.
A experiência espiritual da impermanência nos ajuda a acessar sua dimensão menos perceptível,
ou seja, nossa visão sobre o momento‐a‐momento da origem e cessação de toda experiência
perceptível.
Na plenitude de consciência, observamos tudo como em constante fluxo, até mesmo
experiências que parecem persistentes. Percebemos que nosso apego e resistência têm muito
pouco a ver com a própria experiência, pois principalmente nos apegamos a ideias e crenças, e
não às experiências em si. Por exemplo, não nos apegamos ao dinheiro, mas às ideias do que o
dinheiro significa para nós.
Não podemos resistir ao envelhecimento, tanto quanto resistimos em abrirmos mão dos
conceitos enraizados em nós mesmos e em nossos corpos físicos.
Um dos nossos apegos mais arraigados é para nossa, própria imagem e identidade. Na
experiência mais profunda de consciência, vemos que a ideia de ‘própria’ é uma forma de apego
a conceitos; na experiência espiritual da impermanência nada em nossa vivência direta poderá
qualificar‐se como ‘própria’ para nos apegarmos. Como podemos perceber na impermanência,
nada é real, para que possamos realmente nos agarrar. Está claro?
Percebemos que nossas experiências não correspondem às nossas expectativas, crenças ou
imagens e que a realidade é mais fluida do que quaisquer das nossas ideias sobre o assunto.
Refletindo a experiência espiritual da impermanência desta forma, poderemos nos abrir para a
libertação. O nível final libertador da experiência espiritual da impermanência é o movimento
no sentido de deixarmos ir na dimensão mais profunda de nossa psique.
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