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domingo, 1 de maio de 2016

VIVER É UM ATO DE CORAGEM





Estamos a 20 de Dezembro e tradicionalmente, entre amigos e familiares trocam-se mensagens de carinho e presentes. Ninguém sabe ao certo o que vai ganhar, daí que gerir momentos de muita ansiedade é imprescindível. Felizmente, sou o amigo oculto de um amigo que me conhece bem e, eis que se anuncia que acabo de ganhar o melhor presente do ano, um livro. O livro já em minhas mãos, só aguça minha ansiedade, sobretudo porque não conheço o autor. O título é desafiador: "Coragem: a alegria de viver perigosamente". Confesso que sempre gostei de algumas pitadas de perigo e, navegar pelas entrelinhas desta obra pode ser uma promessa de encantamento. O autor é OSHO, Professor Catedrático de filosofia, que nasce na Índia, superdotado e dedica sua vida estudando espiritualidade. Aliás, OSHO foi considerado pelo Sunday Times de Londres como sendo integrante dos "1000 edificadores do Século XX" e pelo Sunday Mid-Day da Índia como um dos 10 personagens que mudaram o rumo daquele país, a semelhança de Gandhi, Neru e Buda. Morre em 1990 e deixa mais de 600 livros traduzidos em várias línguas.
Cheiro a papel, café desenhando vapores pelos ares da sala de estar, Isabel Novela lidera a playlist de músicas que disfarçam aquele silêncio emprestado durante o meu mergulho a obra de OSHO. Muita expectativa, imagino que vá aprender a reduzir minha falta de coragem que muitas vezes me oprime. Não sei bem que mudanças esta obra irá gerar em mim, mas cá vou eu, mais uma vez submeto-me ao desejo que a paixão pela leitura me cria, buscando sempre por borrifadas de fascinação.
A vida é insegurança, contém incertezas e é um perigo, diz OSHO. Ou imitamos as avestruzes, fechando os olhos e escondendo a cabeça para nos sentirmos seguros por meio da ignorância ou, abrimos os olhos, encaramos a vida e aceitamos que enquanto vivos não podemos estar totalmente seguros. Apenas os idiotas se sentem seguros. Estes criam uma zona de conforto, de fronteiras conhecidas, onde o improvável não tem espaço e fazem desse aprisionamento, o seu mundo, repleto do previsível: acordar, ir trabalhar, passar pelo supermercado, voltar a casa, ver televisão, esperar por um casamento arranjado, dormir e repetir a rotina.
Percebe-se nesta belíssima obra que fechar-se a uma rotina é ser idiota, é rejeitar a vida, é uma forma de tentar proteger-se de incertezas. Mas como fugir de incertezas? Mesmo dentro do previsível existem mistérios. Entrar no carro, fazer a ignição e pôr-se em marcha não significa chegar ao destino, por maior certeza que a gente tenha do local onde pretende ir. OSHO é mais ousado e afirma que inclusivamente nem Deus sabe o que irá acontecer no instante que se segue. Deus não sabe do futuro. Se ele soubesse, significaria que tudo está escrito e predestinado e, com tudo escrito não pode haver liberdade, não pode haver erro, não pode haver fracasso, não pode haver glória, não pode haver grandeza, não pode nem haver pecado porque apenas vivemos do destino, do cumprimento de escrituras. Se Deus programasse nosso destino, então não passaríamos de robôs funcionando a base do ON, Play, Pause e OFF. E porquê das nossas lutas diárias se Deus já predestinou tudo e é só esperar que se cumpra?
A vida é liberdade e a liberdade alimenta-se de incertezas. Mas as incertezas geram medo, o qual só pode ser enfrentado se tivermos um elemento essencial: coragem. Mais fácil seria pensar que coragem significa ausência de medo. Mas não, isso não é coragem, é imprudência, é inconsequência. Coragem é o acto de aceitar incertezas, aceitar o medo e enfrentá-lo com raça. A vida é uma questão de entrega à aventuras, é a aceitação do desconhecido. Como espera conquistar algo novo se não quer sair da sua zona de segurança?
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A falta de coragem torna-nos submissos ao medo e é isso que faz-nos escravos. A falta de coragem de bater uma porta buscando uma nova oportunidade de emprego nos mantém escravos do actual patrão e do mísero salário; a falta de coragem de abrir o coração para amar e ser amado nos mantém escravos de um relacionamento imprestável; a falta de coragem de dizer não aos filhos, nos mantém criadores de filhos mal-educados e despreparados para a vida; a falta de coragem de exigir que suas contribuições nos impostos te beneficiem de facto, mantém-te escravo de um regime político opressor; o medo de que as pessoas se riam de ti torna-te escravo de pessoas que nem são importantes na tua vida. É preciso aceitar o medo para começar a viver sua liberdade. É unicamente o seu medo que faz de si um escravo. Como escravizar uma pessoa que aceita o que a amedronta, que aceita sofrer, que aceita perder, que aceita ficar sem ninguém, que aceita viver a descoberto, que aceita que se riam dela, que sabe que morrer é a única certeza da vida? Impossível.
Geralmente gente que convive pacificamente com o medo, não tem receio de consequências e tem consciência de que a vida é o equilíbrio de causa e efeito. Devemos então ser inconsequentes? Definitivamente não. OSHO nos lembra, "faça todas as asneiras que poder, mas não se esqueça de apenas uma coisa: para crescer, nunca repita o mesmo erro". Isso me remete a Leandro Karnal, quando em mais uma das suas brilhantes palestras, referenciando Hamlet, um personagem de uma das peças de Shakespeare, diz "a consciência nos torna covardes, quanto mais eu envelheço mais eu tenho medo, quanto mais eu tenho medo, mais eu vou tendo a consciência sobre o mundo", relembrando que a consciência, que tende a aumentar com a idade, desperta em nós preocupações excessivas: um jovem por exemplo, segundo Karnal, geralmente não leva guarda-chuva a rua porque não acredita que choverá sobre ele e se chover ele saberá se proteger mas em idade mais avançada, acreditamos que sempre choverá sobre nós, exactamente naquele momento em que decidimos sair à rua. Para Karnal, com a idade ganhamos consciência de que a vida tem riscos e é esta consciência que nos torna covardes.
Então eu diria que a vida tem dois momentos importantes: um primeiro momento, em que somos ignorantes e levemente influenciados pela consciência, o momento da criancice, da adolescência e da juventude, um momento em que nos entregamos a tudo e mais alguma coisa, um momento de aprendizagem intensa. Depois, entramos a um segundo momento, em que devido à nossa anterior exposição destemida aos eventos da vida, nos tornamos reféns da nossa própria consciência. Quanto mais adultos nos tornamos, menos riscos queremos correr, provavelmente porque nosso corpo a certa idade não pode responder eficientemente a alguns "caprichos" da mente, já que nos sobra uma forcinha física apenas residual. Nossa consciência nos acobarda e o medo ofusca a coragem de continuar a viver em pleno. Com a idade, entramos para uma fase em que fazemos de tudo para não perder o que nos sobra da vida, mesmo que para isso desperdicemos momentos únicos.
De acordo com OSHO, em nenhuma fase devemos viver menos prazerosamente, e ele socorre-se a uma estória em que um velho monge estando à beira da morte teve o privilégio de lhe perguntarem que mensagem queria deixar aos seus discípulos. Podia-se esperar de tudo, menos que ele dissesse, "Ah, este bolo é delicioso". Nos seus últimos minutos, ele não deixou de fazer o que gostava, comeu seu bolo favorito, oferecido por um dos seus discípulos, viveu seus últimos minutos apreciando aquele momento, completamente despreocupado com a morte. Ficou então a mensagem de que é preciso viver prazerosamente até ao último suspiro. Não deixe de viver por medo nem mesmo da morte. A morte é certa para todos. Muitas vezes a gente vive a morte de tanto não desejá-la, mas a morte não é para ser vivida, devemos sim viver a vida e esquecer a morte naquele lugar incerto e imprevisto onde ela própria prefere esconder-se. Um lugar que todos desconhecem, provavelmente para que ninguém se ocupe senão com o próprio dom de viver. Para isso precisamos ter coragem.
A palavra coragem deriva do latim cor que significa coração, daí que ser corajoso significa viver com o coração. Os inteligentes vivem do coração, vivem de incertezas e, com amor e confiança, aceitam o desconhecido. Os covardes vivem da cabeça, são calculistas, são negociantes, astutos. Viver com a cabeça é coisa de fracos, de medrosos, que inventam lógicas de vida para simular segurança, esquecendo-se completamente da imprevisibilidade. Escondem-se por detrás de teologias, conceitos, palavras, teorias. Viver da cabeça é de "nesmas" porque a cabeça vive do pensamento e o pensamento é algo conhecido e se é conhecido é porque pertence ao passado. O pensamento está sempre ultrapassado. Uma criança ao nascer não pensa, porque não conhece nada, não se lembra de nada, simplesmente porque a vida é o presente e o futuro e não o passado. Só é possível pensar no que se conhece. Desta forma, fica então demonstrado, que nossa existência precede o pensamento. O pensamento é uma imposição social, que só começa depois de nascermos. Nós apenas podemos pensar naquilo que fomos expostos depois de nascer. O pobre pensa na pobreza e em lutar contra a pobreza, o rico pensa na riqueza e em gerar riqueza, o astronauta pensa num planeta semelhante à terra e com traços de vida. É tudo uma questão de ambiente a que fomos expostos.
O pensamento é calculista, mas o coração não. O coração é aventureiro, é futurista, gosta de arriscar. Apenas o coração pode permitir-te entrar para um relacionamento com uma pessoa que de certeza nunca chegas a conhecê-la completamente. Para isso é necessário amor. É por isso que o amor é cego. O segredo do amor é escutar e seguir o coração e não a consciência. É verdade que o coração pode levar-nos ao perigo mas lembre-se que os perigos são necessários para nos amadurecer. Sem coragem não é possível amar, daí que o oposto do amor não é o ódio, o oposto do amor é o medo. Para se libertar deste medo é preciso desligar-se do pensamento e aprender a ouvir e a seguir o coração. Isso requer a maior das inteligências, a confiança. Confiar significa aceitar incertezas. Quem não é inteligente protege-se no medo e na dúvida, nunca é capaz de dizer "independentemente do que venha a acontecer, aceitarei o desafio e saberei responder de forma adequada". Tu escolhes um dos dois rumos da vida: a via do amor ou a via do medo. Não existe outra rota.
Enfim, coragem é deixar que o coração nos conduza e aceitar que se algo der errado sairemos mais maduros, e se não repetirmos o mesmo erro, isso nos fortificará. A vida é aceitar o desconhecido e por causa disso só pode ser vivida arriscadamente, não há outro jeito. Enquanto não tivermos coragem, continuaremos a perder muitas oportunidades. Para ser desgraçado não precisamos de esforço, é só ser covarde. Se não está na prisão mas sente-se miserável, recorde-se que ninguém o prendeu aí nessa situação, ganhe coragem e busque novas aventuras. Ser feliz é ser livre e, ser livre é um acto de coragem. A vida é mesmo um Karma, onde de forma consciente ou cega, tu crias tudo o que te acontece. Quer aceites quer não, tu és o maior responsável pela tua desgraça ou glória. Só tendo coragem de reconhecer a tua culpa é que poderás pular deste barco que te parece seguro e desenhar a nado a sua nova rota de felicidade.

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