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sexta-feira, 13 de junho de 2014

ATENÇÃO PLENA..."VAMOS LAVAR OS PRATOS"?


Atenção Plena

Antes de estudarmos a meditação em mais detalhes, é útil discutirmos a atenção plena, que, no contexto das perfeições, é tecnicamente um fator que contribui para o desenvolvimento shamatha. No entanto, pode também ser entendida de forma mais geral como uma qualidade da consciência que podemos desenvolver na vida diária e que traz grande benefício. Assim, embora a atenção plena, nesse sentido, não seja estritamente parte das paramitas, gostaria de aprofundar nossa investigação sobre como podemos incorporar essa prática espiritual em nossa vida diária.

O que significa atenção plena? ”Atenção plena”, em sânscrito, é smriti e em tibetano, drenpa. Ambas tem o mesmo significado, que é ‘lembrar’. Isso é muito próximo da ideia católica de relembrar, de recordar, ou de auto recordação. É a qualidade de estar aqui e agora, que em geral é exatamente onde não estamos. Normalmente, nós nem sequer estamos conscientes de que estamos aqui ou de que estamos um pouco aqui e um pouco em outro lugar. É extraordinário o quanto ignoramos nossa mente. No budismo a prática da atenção plena também está ligada a estados mentais positivos. Por exemplo, um ladrão de banco pode estar muito atento e consciente de suas ações, mas não se diria que ele possui atenção plena porque sua motivação não é virtuosa e se baseia em ganância e desejo.

Quando começamos a treinar a atenção plena, vemos o quanto nossa mente de fato está totalmente fora de controle. Uma das maneiras de perceber isso é tentar permanecer no aqui e agora. Se dizemos: ”Tome consciência do corpo neste momento, apenas perceba”, nesse momento conseguimos, podemos sentir – não julgamos, apenas percebemos. Porém, quando pensamos ”Isso é fácil! Olhe, estou consciente do meu corpo estou plenamente atento, entendi tudo”, já nos perdemos. Porque estamos apenas pensando em estar plenamente atentos, e não estamos mais plenamente atentos.  Então é complicado.

A qualidade de estarmos atentos ao que fazemos no momento é muito importante, porque o momento presente é tudo o que temos. Todo o resto é passado, já foi. Nosso futuro ainda não chegou. A única coisa que está acontecendo é o momento presente, tão rápido que já quase o perdemos antes mesmo de ele chegar. Está fluindo, certo? Se não estivéssemos presentes apenas de vez em quando, não teria importância, mas o fato é que não estamos presentes na maior parte de nossa vida. Ficamos presentes por alguns segundos e saímos em seguida. Por isso nossa vida se torna aborrecida, rotineira e chata. Os franceses têm uma expressão para estar entediado –" je mennuie" – que significa literalmente, ”eu entedio a mim mesmo”. Exatamente. Não tem nada a ver com o que esta acontecendo ao nosso redor. Nossa mente nos entedia.

Vejamos como podemos estar presentes. Porque, se pudermos aprender a desenvolver algum grau básico de atenção plena, daremos mais vida a tudo, a todas as coisas que fizermos durante o dia. Isso é muito importante, portanto, não durma!

Thich Nhat Hanh, mestre zen vietnamita, fala sobre duas maneiras de lavar pratos. Uma maneira é lavar os pratos para obter pratos limpos, e a outra maneira é lavar os pratos para lavar os pratos. Normalmente, quando lavamos pratos, como em qualquer outra atividade que fazemos, queremos um resultado. Lavamos pratos para termos pratos limpos e depois seguimos para próxima tarefa. A tarefa real, de lavar pratos em si, é irrelevante. Enquanto lavamos os pratos, estamos pensando no que foi dito no café da manhã, ou no programa de televisão que vimos na noite passada, ou pensamos ”Bem, depois disso, vou tomar um pouco de café e a seguir tenho que ir ao supermercado – o que preciso comprar?”. Pensamos em algo que faremos naquela noite, ficamos presos em algum mundo de fantasia ou o que seja. Só não estamos pensando naqueles pratos. Certo? E, quando terminamos de lavar os pratos, que agora estão limpos e empilhados, vamos tomar o nosso café com uma fatia de bolo. Tomamos o café. Normalmente estamos bastante conscientes no primeiro gole; julgamos se gostamos ou não gostamos. Mas, já no segundo gole, não estamos mais conscientes. E, no terceiro gole, estamos totalmente inconscientes de que estamos tomando café porque estamos pensando no que temos que comprar no supermercado, isto é antes de surgir uma memória de anos atrás – ”e então ele me disse isso, e eu respondi aquilo…”. Quando comemos o bolo ou qualquer outra coisa boa, decidimos se está gostoso na primeira mordida, na segunda mordida já perdemos o interesse, e na terceira mordida estamos mastigando e nem sequer sabemos. Toda nossa vida é levada assim.

Um dos significados da palavra buda é ”despertar”. Ele é O Desperto. Ele despertou do sonho da ignorância. Mas o resto de nós ainda está sonhando. Sonhos bons ou pesadelos – é tudo um sonho. Somos sonâmbulos. Parecemos muito brilhantes, mas estamos dormindo. Onde está nossa mente? As vezes realmente acho que seria interessante – horrível, mas interessante – se tivéssemos alto-falantes conectados a nossa mente, para que todos pudessem ouvir nossos pensamentos. Todo mundo iria correr para aprender a meditar, não iriam?! Porque, quando olhamos para dentro e vemos o que está acontecendo em nossa mente, encontramos conversas sem fim, trivialidades sem fim, e não é nem mesmo divertido. Se observarmos, veremos como tudo é chato. Os mesmos pensamentos, opiniões e memórias velhos e rançosos são constantemente reciclados. Enquanto tagarelamos sozinhos, temos o rádio ligado ou a televisão berrando ao fundo. Não há silêncio. Atenção plena tem a ver com estar em silêncio. Diz respeito a ter uma mente completamente quieta e presente no que esta acontecendo.

A outra maneira é lavar pratos para lavar pratos. Dessa maneira também obtemos pratos limpos.  Porém, quando lavamos a louça desse jeito, estamos fazendo a coisa mais importante que poderíamos fazer nesse momento. Estamos lavando os pratos. É o que estamos fazendo. Este é o momento. Se não estivermos presentes, nós o perdemos. Se ficamos alertas, conscientes da água, das próprias mãos e dos pratos, podemos perceber e apenas estar presentes. Essa sensação de presença, de conhecimento, é o ponto vital. Porque, se realmente aprendermos a fazer isso, quando tivermos terminado não teremos apenas lavado os pratos – teremos lavado nossa mente.  Nossa mente será agradável limpa e rilhante assim como a louça. É muito fácil. Mas o problema é que esquecemos. O verdadeiro significado de atenção plena é lembrar, e seu inimigo direto é o esquecimento.

A inércia de nossa mente é muito grande. As vezes, quando ouvem ensinamentos sobre atenção plena, as pessoas pensam: ”É, isso parece bom, deixa eu experimentar um pouquinho”.. Realmente tentam estar presente com o que estão fazendo. Tentam ouvir a si mesmas quando falam e saber o que estão pensando, tentam estar presentes e saber como estão se movendo e como estão aqui, no momento, o máximo possível. Logo que começamos, pensamentos basicamente em ficar presentes, e isso é muito difícil. Prosseguimos de onde estamos.

As pessoas tentam ficar presentes, e a seguir dizem: ”Isso foi ótimo, realmente gostei. Tenho tentado praticar a dois ou 3 dias e é muito divertido estar atento. Meus amigos já estão dizendo que me tornei uma pessoa muito mais agradável e me sinto muito bem. Isso é ótimo”.

E pensamos ”Ah, sim, vamos aguardar.”

Dentro de 6 semanas perguntamos como vai a atenção plena. ”Atenção plena? Opa, esqueci!”

Esqueceu. Não porque não estivesse funcionando. Não porque fosse incrivelmente difícil. Na verdade, a atenção plena é razoavelmente fácil. Mas a inércia, a preguiça da mente e a relutância em estar no presente são muito profundas.

O Buda disse que a atenção plena era como o sal nos molhos curry. Em outras palavras, é o que dá sabor a tudo o que fazemos. Dá vida a tudo, porque é como se estivéssemos fazendo as coisas pela primeira vez. O mundo se torna vívido e claro. Normalmente, é como se olhássemos através de uma lente e tudo estivesse embaçado. Não conseguimos ver com clareza. Assim é com a mente. Mas, quando ajustamos a lente, tudo entra em foco e parece recém-lavado, como os pratos, e não como a velha mente rançosa com a qual normalmente vivemos. Esta é uma noa mente. A qualidade da atenção plena é muito importante no desenvolvimento das qualidades espirituais em nossa vida diária.E é algo que todos nós podemos cultivar dia e noite.

O Buda dividiu a atenção plena em quaro aspectos: atenção plena ao corpo, atenção plena as sensações, atenção plena a própria mente e, na interpretação do Mahayana, atenção plena aos darmas ou fenômenos externos. Ou seja, tudo o que é recebido por meio dos 5 sentidos – imagens, sons, sabores, toques e odores.

Vamos começar com a atenção plena ao corpo. O corpo é o mais tangível dos aspectos. Os tibetanos usualmente enfatizam a atenção plena a própria mente, mas isto é bastante difícil nessa fase inicial, visto que nossa mente flui de forma muito rápida e turbulenta, e é bem difícil acompanhá-la. Talvez seja melhor começarmos com algo bem mais estável e sólido, como o corpo. O Buda diz que começamos pensando: ”Quando estou em pé, sei que estou em pé; quando estou sentado, sei que estou sentado; quando estou deitado, sei que estou deitado, quando estou caminhando, sei que estou caminhando”.

Pense sobre isso. Quantas vezes ficamos em pé ou sentamos sem nem mesmo estarmos conscientes de que estamos em pé ou sentados porque nossa mente está correndo lá na frente? Normalmente nem sequer sabemos o que nosso corpo esta fazendo. No entanto, isto é algo muito simples de trazer para o presente – basta sabermos que estamos sentados quando estamos sentados. Experienciar como o corpo se sente no momento: isto é consciência corporal. Ficar ciente da respiração. Inspirar e expirar com consciência é uma maneira de ficar instantaneamente centrado Não podemos respirar no passado ou no futuro  - só podemos respirar agora.

Existem infinitas oportunidades ao longo do dia para a prática da atenção plena ao corpo. Alguns anos atrás, em Nova Délhi, em cima da luz vermelha dos semáforos, escreveram em grandes letras brancas: RELAXE. Quando paramos no farol vermelho, relaxamos, inspiramos e expiramos, sentindo gratidão pelo sinal estar fechado, dando a oportunidade de nos centrarmos novamente. Se ligamos para alguém e temos que ouvir a gravação interminável da secretária eletrônica, ótimo – inspiramos e expiramos, nos centramos, e então estamos prontos para deixar uma mensagem após o sinal. Ao longo do dia, existem inúmeras oportunidades para voltarmos ao nosso centro, ao nosso ser consciente – escovando os dentes, comendo e bebendo, penteando o cabelo, fazendo a barba etc. Use esse momento, essa ação simples – e saiba o que está fazendo nesse momento. Não escove os dentes pensando em mil outras coisas.  Apenas escove os dentes para escovar os dentes, e perceba. Tudo faz parte do treinamento para estar presente. Porque o presente é tudo o que temos.

Se aprendermos como usar o nosso dia para desenvolver a qualidade de atenção plena e consciência, quando nos sentarmos para meditar tais problemas não existirão. Em vez de a mente não ser nada mais que um obstáculo, nós a utilizamos para nos ajudar. Aqueles que são sérios quanto ao cultivo dessa prática devem ler livros sobre o assunto e, se possível,participar de cursos de meditação e perguntar a quem tem mais experiência na prática da atenção plena. Porque essa é uma qualidade muito importante,e não tem nada a ver com orientação espiritual. Todo mundo pode utiliza-a. Durante essa prática profunda, ninguém sequer sabe que estamos praticando! Podemos leva-la conosco a todos os lugares em qualquer circunstância, até mesmo para o banheiro. Não importa onde – cada ação, cada pensamento, e cada palavra pode ser um objeto para nossa consciência, para nosso conhecimento.

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