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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A AGONIA DO COLESTEROL




Por Dr Drauzio Varella

A agonia do colesterol

Nunca me convenci de que essa obsessão para abaixar o colesterol às custas
de remédio aumentasse a longevidade de pessoas saudáveis.

Essa crença - que fez das estatinas o maior sucesso comercial da história
da medicina - tomou conta da cardiologia a partir de dois estudos
observacionais: Seven Cities e Framingham, iniciados nos anos 1950.

Considerados tendenciosos por vários especialistas, o Seven Cities
pretendeu demonstrar que os ataques cardíacos estariam ligados ao consumo
de gordura animal, enquanto o Framingham concluiu que eles guardariam
relação direta com o colesterol.

A partir dos anos 1980, o aparecimento das estatinas (drogas que reduzem os
níveis de colesterol) abafou as vozes discordantes, e a classe médica foi
tomada por um furor anticolesterol que contagiou a população. Hoje, todos
se preocupam com os alimentos gordurosos e tratam com intimidade o "bom"
(HDL) e o "mau" colesterol (LDL).

As diretrizes americanas publicadas em 2001 recomendavam manter o LDL
abaixo de cem a qualquer preço. Ainda que fosse preciso quadruplicar a dose
de estatina ou combiná-la com outras drogas, sem nenhuma evidência
científica que justificasse tal conduta.

Apenas nos Estados Unidos, esse alvo absolutamente arbitrário fez o número
de usuários de estatinas saltar de 13 milhões para 36 milhões. Nenhum
estudo posterior, patrocinado ou não pela indústria, conseguiu demonstrar
que essa estratégia fez cair a mortalidade por doença cardiovascular.

Cardiologistas radicais foram mais longe: o LDL deveria ser mantido abaixo
de 70, alvo inacessível a mortais como você e eu. Seríamos tantos os
candidatos ao tratamento, que sairia mais barato acrescentar estatina ao
suprimento de água domiciliar, conforme sugeriu um eminente professor
americano.

Pois bem. Depois de cinco anos de análises dos estudos mais recentes, a
American Heart Association e a American College of Cardiology, entidades
sem fins lucrativos, mas que recebem auxílios generosos da indústria
farmacêutica, atualizaram as diretrizes de 2001.

Pasme, leitor de inteligência mediana como eu. Segundo elas, os níveis de
colesterol não interessam mais.

Portanto, se seu LDL é alto não fique aflito para reduzi-lo: o risco de
sofrer ataque cardíaco ou derrame cerebral não será modificado. Em
português mais claro, esqueça tudo o que foi dito nos últimos 30 anos.

A indústria não sofrerá prejuízos, no entanto: as estatinas devem até
ampliar sua participação no mercado. Agora serão prescritas para a multidão
daqueles com mais de 7,5% de chance de sofrer ataque cardíaco ou derrame
cerebral nos dez anos seguintes, risco calculado a partir de uma fórmula
nova que já recebe críticas dos especialistas.

Se reduzir os níveis de colesterol não confere proteção, por que insistir
nas estatinas? Porque elas têm ações anti-inflamatórias e estabilizadoras
das placas de aterosclerose, que podem dificultar o desprendimento de
coágulos capazes de obstruir artérias menores.

O argumento é consistente, mas qual o custo-benefício?

Recém-publicado no "British Medical Journal", um artigo baseado nos mesmos
estudos avaliados pelas diretrizes mostrou que naqueles com menos de 20% de
risco em dez anos as estatinas não reduzem o número de mortes nem de
eventos mais graves. Nesse grupo seria necessário tratar 140 pessoas para
evitar um caso de infarto do miocárdio ou de derrame cerebral não fatais.

Ou seja, 139 (em 140 pessoas) tomarão inutilmente medicamentos caros que em
até 20% dos casos podem provocar dores musculares, problemas
gastrointestinais, distúrbios de sono e de memória e disfunção erétil.

A indicação de estatina no diabetes e para quem já sofreu ataque cardíaco,
por enquanto, resiste às críticas.

Se você, leitor com boa saúde, toma remédio para o colesterol, converse com
seu médico, mas esteja certo de que ele conhece a literatura e leu com
espírito crítico as 32 páginas das novas diretrizes citadas nesta coluna.

Preste atenção: mais de 80% dos ataques cardíacos ocorrem por conta do
cigarro, vida sedentária, obesidade, pressão alta e diabetes. Imaginar ser
possível evitá-los sentado na poltrona, às custas de uma pílula para
abaixar o colesterol, é pensamento mágico.

Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de
Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da
Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje.

Veja como publicado:

http://drauziovarella.com.br/?s=Colesterol+-+Fim+do+Mito



*Lembre-se sempre*:

*"Embora ninguém possa voltar atrás e  fazer um novo começo, qualquer um
pode  começar agora e fazer um novo fim".*


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