PUBLICADO EM SOCIEDADE POR PEDRO HENRIQUE ALVES
“Triste realidade onde relacionamentos vazios iniciam-se
por uma realidade paralela amorfa..."
Que passamos por uma era de urgências, e tramas
existências que se perdem ao longo de um horizonte sem
fim de distrações e ilusões cibernéticas, bom, quanto a isto
creio não ser o único a vislumbrar tal problema.
Não quero
escrever sobre os problemas humanísticos advindos destas
plataformas de realidades paralelas, as redes sociais. Para
maiores aprofundamentos indico Bauman ou Lipovetsky. Só
gostaria de analisar em poucos parágrafos o quanto estes
lugares tonaram-se verdadeiros mercados de
relacionamentos vazios.
Alguns minutos perdidos entre as barras de rolagem do
Twitter, Instagram e Facebook, são suficientes para nos
mostrar como somos uma geração carente. Não sei ao certo
se carente de afeto ou de atenção—não sei também até que
ponto estes dois parâmetros se confundem. Entre textos
tristes e fotos seminuas—ou completamente nuas mesmo
—, a sociedade vai mostrando a essência daquilo que
chamamos de carência.
As redes sociais em pouco tempo
se transformaram numa grande vitrine de açougue onde se
escolhe, o que se quer, por peças. É bem verdade que as
redes sociais transformaram-se, também, numa grande praça francesa de debates políticos, mas isto cabe a outro
texto.
Na realidade, eu acho extremamente interessante a forma
desproporcional que a raça moderna lida com a ansiedade
de namorar. Tal aporia me lembra as aulas de biologia, onde
estudamos como agem os feromônios e como se dá a
reprodução dos animais; tudo isto, unido a uma visão
mercantilista e varejista pós revolução industrial, nos dá uma
visão panorâmica da situação relacional de nossos dias
nestas ditas redes. A modernidade usa as redes sociais para
expor suas urgências de atenção, na busca incessante de
um comprador de carências. E veja, não estou falando de
postar fotos pura e simplesmente, mas sim a finalidade que
se busca nisso. Ou seja, postar fotos em busca de saciar
ausência do sexo oposto (ou do mesmo, sei lá), da mesma
forma que cachorro mija no muro para atrair fêmeas.
A busca intrépida por uma curtida, um elogio ou, quiçá, uma
proposta, faz com que a timiline de muitas pessoas tornem-se
catálogos e/ou vitrines de homens e mulheres.
Triste realidade onde relacionamentos vazios iniciam-se por
uma realidade paralela amorfa. Onde fotos “pixializadas”
tornam-se meios de conquista; desejos descontrolados, vias
de um pseudoromantismo; palavras insonsas, motivos de
crença amorosas. Eu acredito ainda naquele amor
conquistado a duras penas, nas cartas e nos buquês de
rosas. No frio na barriga ao ver e tocar, pessoalmente é
claro, a(o) amada(o). Acredito em pessoas caras que não
custam uma curtida. Antigamente se fugia de casa para
viver um amor eterno, uma traquinagem que se justifica por
uma eternidade; hoje se foge do eterno em busca de
relacionamentos momentâneos, uma traquinagem que se
perde num instante lodoso de luxúria. Aliás, nesta matéria,
eu aceito a taxação reacionário.
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