A Subjetividade do Apocalipse
por João Carvalho Neto
Dando continuidade ao texto "Eu e a transcendência", pretendo expor aqui algumas ideias que
podem trazer um novo entendimento para as perspectivas apocalípticas do final dos tempos.
Conforme defendi, a Física Quântica demonstra que a realidade é apenas um estado de
consciência diante de infinitas possibilidades que o universo nos apresenta, de tal forma que, ela
só existe enquanto percepção que se tornou generalizada pelos processos de educação e
condicionamento.
Se buscarmos analisar o processo evolutivo do ser humano, temos a tendência de analisá-lo como
um aprimoramento da alma no rumo da conquista de virtudes cada vez mais sublimadas. Mas isso
pode ser apenas um aspecto fragmentado dessa evolução, restrito a uma faixa dimensional, e que
funciona mais para flexibilizar nosso estado egocêntrico em que se sustenta a percepção da
realidade concreta do que como meta para se alcançar modelos de perfeição.
Quero dizer com isso que tornar-se bom, humilde, caridoso, entre outras aptidões para a chamada
evolução pode não ser meta em si mesma, mas um exercício que vá diminuindo a rigidez egoica
com que sustentamos nossas certezas da vida para podermos vir a transcendê-la.
Com isso, o processo evolutivo passaria a se dar em função da quebra do aprisionamento à
realidade tal qual a entendemos, para avançarmos na direção de universos multidimensionais, em
uma caminhada para o retorno ao Deus Campo de onde provimos.
Sabemos que, da mesma forma que a ontogênese repete filogênese, a vida do ser humano
encarnado retrata a evolução anímica. A criança se desenvolve da imaturidade para a maturidade,
da concretude para a abstração. Quando nasce, ela não tem uma percepção da vida e, aos
poucos, vai construindo a visão de um mundo que assumirá como sendo real.
Possivelmente, a evolução da alma humana esteja se dando da mesma forma. Ao iniciarmos nossa
jornada neste universo tridimensional, não tínhamos uma concepção clara da realidade, que foi se
solidificando de encarnação em encarnação, avançando para uma compreensão do mundo e da
matéria que o sustenta, crescendo aceleradamente. O mundo como o entendemos não foi sempre
assim como o vemos hoje, mas vem se tornando um estado de consciência dentro de um modelo
estrutural da vida, onde ficamos aprisionados.
Estamos chegando ao conhecimento das estruturas mais infinitesimais dessa matéria, alcançado
explicações de como ela funciona. E com o que nos deparamos? Nos deparamos com o fato
quântico de que a matéria não existe, que ela faz parte de um oceano de possibilidades onde,
especificamente, temos focado nossa atenção.
E o que nos aguarda agora? Justamente a caminhada inversa, o retorno a uma fase onde nossas
consciências não tinham sustentação dessa materialidade. As constatações da Física Quântica
nos remetem justamente ao período onde a percepção da matéria não era estável, onde ela era
apenas uma possibilidade que nos ensinaram a tomar como a única realidade.
Dessa forma, quando pensamos em apocalipse, como entendimento da destruição da vida
planetária, talvez estejamos falando de um evento verdadeiro, não num nível coletivo ou de
aniquilamento do planeta, pelo menos a priori, mas na subjetividade de cada individualidade. O que
pode estar acontecendo - e me parece que isso seja muito sugestivo - é a fragmentação de uma
percepção da realidade na qual acostumamos a nos sustentar.
E como isso pode estar sendo estimulado? Primeiro, com as compreensões que a ciência nos tem
oferecido. Depois, com um amadurecimento natural da consciência que se predispõe a
alargamentos perceptivos. E, finalmente, pela instabilidade dos tempos presentes, onde as
variáveis têm se manifestado nos trazendo incertezas e medos que abalam nossas convicções mais estáveis, ajudando a flexibilizar o ego que se abre para novos horizontes de aferição da vida.
Talvez o apocalipse seja um salto quântico, como o que se opera no interior de um átomo, onde
deixaremos, cada um ao seu tempo, o aprisionamento à realidade tridimensional para um mergulho
na multidimensionalidade do campo divino.
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